A reformulação da cultura e da identidade começa com contexto e perspectiva. Para o escritório de arquitetura Studio NYALI, com sede em Londres, esse ato de reformulação está no centro do design contemporâneo. Fundado por Nana Biamah-Ofosu e Bushra Mohamed, seu trabalho visa centralizar identidades, culturas e pessoas periféricas examinando, desafiando e mudando as críticas e narrativas arquitetônicas. Essa perspectiva crítica move a educação e a prática em direção a uma compreensão mais inclusiva e holística do ambiente construído.
Como eles descreveram, o Studio NYALI está focado na identidade, em histórias e espaços compartilhados, com uma forte crença de que a arquitetura deve ser entendida como incorporação e artefato da experiência humana. Construindo seu reconhecimento, foi eleito pelo ArchDaily um dos melhores escritórios de 2021. A entrevista a seguir explora o trabalho e os interesses do inovador escritório, bem como seus projetos e inspirações mais recentes, e também destaca como futuros mais inclusivos e equitativos estão sendo repensados.
Por que vocês dois escolheram estudar arquitetura?
Bushra Mohamed: Quando criança, eu tinha interesse em uma grande variedade de assuntos - pintura, desenho, marcenaria, geografia, música e literatura. A arquitetura permitiu que esses interesses fossem sintetizados em uma profissão criativa.
Nana Biamah-Ofosu: Estudar arquitetura permitiu que eu me envolvesse com uma grande amplitude de meus interesses, de ciência e matemática à literatura, linguagem e arte. Também me pareceu uma profissão interessante para seguir.
Vocês podem nos contar sobre o Studio NYALI e suas funções, e como seu trabalho evoluiu com o tempo?
O Studio NYALI é um escritório de arquitetura, design e pesquisa com sede em Londres, fundado por Nana Biamah-Ofosu e Bushra Mohamed. Nós nos conhecemos na Kingston School of Art e compartilhamos uma frustração pela rejeição da profissão com nossas experiências vividas crescendo fora do Reino Unido.
Nosso trabalho visa centralizar identidades, culturas e pessoas periféricas examinando, desafiando e mudando as críticas e narrativas arquitetônicas para uma compreensão mais inclusiva e holística do ambiente construído. A prática, criada no verão de 2021, está focada na identidade, histórias e espaços compartilhados com uma forte crença de que a arquitetura deve ser entendida como incorporação e artefato da experiência humana. Nosso primeiro projeto, o Pavilhão ArchiAfrika, foi concluído para a Bienal de Veneza de 2021. Continuamos a trabalhar na publicação de nossa pesquisa sobre a African Compound House, bem como em vários projetos de ampliação de casas em Londres. No início deste ano, concluímos o projeto da exposição Althea McNish: Color is Mine, na William Morris Gallery em Londres.
Por meio do ensino e da pesquisa, estamos constantemente testando nossas ideias e encontrando maneiras de colaborar.
Vocês podem nos contar mais sobre seu compromisso em centralizar identidades, culturas e pessoas periféricas, e como essas ideias se traduzem em seu trabalho?
Como mencionado anteriormente, nossos interesses e frustrações compartilhados pelo discurso nos levaram a buscar pela centralização de identidades, culturas e pessoas periféricas. Existe uma lacuna dentro da profissão que ignora a pluralidade de identidades que o ambiente construído representa e atende. Na Architectural Association e na Kingston School of Art em Londres, lideramos unidades que exploram a manifestação espacial de identidades culturais diaspóricas, dentro de contextos pós-coloniais e em relação ao futuro do assentamento cosmopolita. A única maneira de estabelecer equidade em nosso ambiente construído é garantir que identidades e arquiteturas historicamente marginalizadas sejam reconhecidas e reposicionadas dentro do cânone.
Quais são os projetos recentes em que vocês têm trabalhado?
The Course of Empire: A Compound House Typology Publication – Em andamento
Esta publicação documenta a casa africana como tipologia, investigando sua condição histórica e contemporânea. Parte de um projeto de pesquisa em andamento, o livro foca nessa tipologia em Gana, explorando-a por meio de projetos de design contemporâneos e precedentes. The Course of Empire investiga como essa tipologia histórica pode ser usada para obter respostas mais ponderadas ao crescimento urbano e à continuidade nas cidades africanas e ocidentais.
EFIE: The Museum as Home Exhibition – Concluído em dezembro de 2021
“EFIE: The Museum as Home” mostra arte histórica e contemporânea, trabalhos em vídeo e instalações multimídia de vários artistas, incluindo o Studio NYALI. A obra do Studio NYALI, intitulada House for a God, explorou a conexão da arquitetura com a espiritualidade e nossa própria conexão com o divino através de uma série de reflexões sobre a casa do Santuário Ejisu-Besease localizada em Ejisu, Kumasi. Um edifício criado para abrigar uma divindade, a casa do santuário reflete a arquitetura, cultura e valores tradicionais Axanti. É uma casa para um deus, construída por nós, buscando nossa própria piedade através de uma forma física. A exposição foi idealizada pela historiadora de arte, autora e cineasta Nana Oforiatta Ayim.
Projeto da exposição Althea McNish: Color is Mine – Concluído em abril de 2022
Althea é uma das artistas têxteis mais inovadoras do Reino Unido e a primeira designer de ascendência caribenha a obter reconhecimento internacional. Ela teve um impacto transformador no "mid-century design" e permanece influente até hoje. Com base em extensas novas pesquisas e em seu arquivo pessoal, Color Is Mine é uma exposição retrospectiva da extraordinária carreira de McNish, projetada pelo Studio NYALI, aberta de 2 de abril a 11 de setembro de 2022.
Ampliação de residências em Londres - Em andamento
Estamos desenvolvendo projetos para a reconfiguração e ampliação de duas casas geminadas em Londres.
Com as mudanças no clima, tecnologia e construção, como você acha que arquitetos e designers irão adaptar as formas de trabalhar para mudar a profissão?
É importante reconhecermos que essas questões estão interligadas e não podem ser abordadas separadamente. A justiça climática é a justiça racial e a social. Para a profissão, precisamos reconhecer que a especificação de materiais e cálculos são uma solução para a emergência climática. Mais importante, precisamos falar com confiança e articular uma posição mais clara sobre como vivemos e construímos – isso requer uma mudança coletiva na cultura e nos hábitos. Também precisamos valorizar outras formas de pensar, como as culturas indígenas de construção - muitas das soluções que buscamos para os desafios de hoje podem ser encontradas em precedentes históricos e tradições. Devemos também reconhecer a dualidade da crise climática - é uma questão global com repercussões para todo o mundo, mas as soluções que propomos devem ser específicas de cada local; por exemplo - o que funciona para o hemisfério norte não é necessariamente adequado nem significativo para o hemisfério sul.
Vocês dois ensinam e também trabalham como arquitetos. Na sua opinião, como a academia informa a prática?
Existe uma ligação intrínseca entre a educação e a prática arquitetônica. Ensinar é uma forma de prática arquitetônica e, de muitas maneiras, o praticante nunca para de aprender. A formação de um arquiteto é contínua e responde às mudanças do mundo em que vivemos: novas tecnologias, a falta ou abundância de materiais e os lugares em que construímos. O ensino oferece a oportunidade de mergulhar nessas conversas por meio de estúdios de design e projetos de pesquisa. Sem pesquisa e experimentação contínuas, não desbloquearemos toda a amplitude de soluções que nossa imaginação nos reserva. Portanto, o diálogo entre educação e prática é fundamental para a responsabilidade da arquitetura contemporânea; desafia e impulsiona a profissão.
Ao olhar para o futuro, existem ideias que vocês acham que deveriam estar nas mentes de arquitetos e designers?
Os arquitetos precisam reconhecer seu papel como tradutores. A alegria de nossa profissão está em sua pluralidade - somos capazes de trabalhar e nos comunicar nas diferentes disciplinas da indústria da construção civil. Esta é uma habilidade que precisamos aproveitar e abraçar. Além da indústria da construção, também podemos ser influentes na criação de uma sociedade mais equitativa, ao nos envolvermos com políticas, sustentabilidade e justiça social.
Convidamos você a conferir a cobertura abrangente da seleção curada de Novos Escritórios de 2021. Como sempre, no ArchDaily, apreciamos muito as sugestões dos nossos leitores. Se você quer nomear um certo estúdio, firma ou arquiteto para o Novas Firmas 2022, por favor deixe sua sugestão.